FILOSOFIA ENTENDIDA COMO CRIADORA DE CONCEITOS
Introdução
É comum ouvir por aí, a filosofia é contemplação, é reflexão, é comunicação, é algo quase natural afirmar essas proposições. Pior que isso, é consolar com isso. Mas, ao contrário, a filosofia quando sabiamente entendida é criação de conceitos. Ela sempre foi isso! Alguns conceitos pertencem e tem sua funcionalidade dentro de uma teoria cientifica ou não, mas, não é o caso quando trata-se de todos os conceitos. Alguns conceitos não tem uma patente determinada, muito menos sabemos de sua longevidade. Na Grécia, bem antes da era cristã, a questão da criação dos conceitos já tinha iniciado. Não estamos direcionando essa margem criadora nem para Sócrates ou para Platão, nem para o próprio Aristóteles, entretanto, para os primeiros sábios da arcaica civilização grega ainda por formar. Sistematicamente sobre isso não existe dúvida, entretanto, a intenção aqui é outra. Evidentemente existe a tradição dos “sete sábios”, esse potencial ético e filosófico é um repositório de um fantástico legado civilizacional da filosofia enquanto criadora de conceitos. “No domínio da literatura grega [...] o influxo desse tipo de material é detectável desde muito cedo” (LEÃO, 2008, p. 14) Até hoje não existe uma lista identificável ou, realmente provável desses setes sábios, chegaram até nós alguns nomes como os de, Tales, Pítaco, Bias, Sólon, Cleobulo, Míson e Quílon. É com eles e por eles que nasce a filosofia como criadora de conceitos a partir de uma das obras de Plutarco (46 d.C. – 120 d.C.) - (Septem Sapientium) – O Banquete dos Sete Sábios. Esses sábios cultivavam perguntas do tipo: - O que é a coisa mais velha do mundo? – O que é a coisa mais bela? Ou ainda, o que é a coisa mais sábia? Nesse universo de curiosidade, nos encontros primordiais, [...] o motivo que justificara a sua reunião teria sido a vontade de consagrar a Apolo certas máximas, mas, como primícias da sua sabedoria,” (Idem, p. 20) Nesse horizonte grego arcaico, o plano da imanência – o espaço, o horizonte onde, ela gravita, engendra uma finalidade única, original, genial: criar conceitos. Por um lado, é bastante estranho afirmar que a filosofia não é reflexão, nem contemplação, muito menos, comunicação. Costumo afirmar, não adianta procurar o que não existe! Não iremos muito longe nessas explicações, são simples: contemplar, literalmente significa olhar ardentemente para algum templo, (com – templo) – igreja. Comunicar, da mesma forma, significa informar – transmitir, portanto, a filosofia está longe de ser uma informante ou adoradora de templos. Outra questão central, a filosofia, essa não foi feita e nem nasceu para resolver os problemas com os quais a sociedade padece. Isso é uma coisa da e para a ciência, encontrar soluções para resolver os problemas do cotidiano não é tarefa da filosofia. A filosofia não é uma ciência, é um conhecimento. Isso precisso ficar claro com o sol do dia! A filosofia tem sua tarefa e conteúdos específicos.
A filosofia da contemporaneidade parece não mais falar ao homem ou a mulher de nossa época, é uma filosofia separada da política da ética ou seja, não surgiu na e da ou para pólis. Nossa época, assim como as demais, é um época carregada de contradições filosóficas, o discurso da filosofia se faz instrumento de domínio e de poder, sempre beneficiando alguns poucos privilegiados ou alguns grupos determinados. A filosofia da nossa época gosta de aparecer na televisão, nos vídeos da internet, os filósofos se afogam com respostas prontas, para toda pergunta tem uma resposta, é um bate e volta. É claro que temos excelentes filósofos, entretanto, longe das redes sociais.
Perguntar pela filosofia supõe necessariamente filosofar! Isso é, criação de conceitos. E é exatamente isso que quer expressar Martin Heidegger, (1889-1976) a resposta o que é filosofia “[...] somente pode ser uma resposta filosofante, uma resposta, que enquanto res-posta filosofa por ela mesma.” Platão, em, uma de suas obras, intitulada, O Político, preliminarmente, retira a filosofia das sombras mitológicas, do véu da opacidade ficcionista para propor uma análise cosmológica, (do cosmo, entendam, universo) científica. No mito cosmológico por ele descrito, Platão atua perfeitamente como um físico. Escreve Platão, “Presta atenção! O universo, umas vezes a divindade guia-o pessoalmente no seu trajeto e acompanha-o no seu movimento circular; mas outras afasta-se – quando os circuitos atingem o intervalo de tempo apropriado. Mas nessa ocasião, por ação do movimento autônomo, o cosmos volta novamente à posição contrária, uma vez que é um ser vivo, dotado de inteligência pelo seu arquiteto primordial.” (2014, 269 d) Platão elimina a conotação fictícia do mito e imprime a ideia de ciência, de racionalidade física do mundo, do cosmos, tanto das causas como dos movimentos, isso é acima de tudo, filosofia. Platão entende que o primeiro movimento é guiado por uma orientação da divindade, e o outro é um movimento autônomo. E aqui está o valor da nova descoberta […] A entidade a divina desempenha o papel não de motor do movimento, mas sim, de guia da direção tomada pelo mesmo, isto porque o cosmo, sendo animado, detém a capacidade de produzi-lo.” (2014, p. 196). Ao retirar as sombras que cobriam o horizonte da filosofia, Platão viabiliza o sentido amplo do próprio pensamento humano. Por sua vez, de outra maneira, afirma Friedrich Hegel (770-1831) “[...] o conteúdo que a filosofia tem não são ações e eventos exteriores das paixões e da sorte, mas são pensamentos.”
Nesse breve contexto inicial, é possível perceber que não existe uma noção única do que seja ou faz a filosofia. Mas, tenho que que afirmar com precisão, o que existe de inconsistência conceitual nisso tudo é demais. Já expressei isso aqui várias vezes, Uma ausência de clareza conceitual perpassa a sociedade contemporânea de modo a embaralhar e confundir sempre mais o sentido e o significado das coisas, dos seres, dos objetos, do mundo, da realidade da própria existência do indivíduo e da comunidade.
A filosofia da contemporaneidade parece não mais falar ao homem ou a mulher de nossa época, é uma filosofia separada da política da ética ou seja, não surgiu na e da ou para pólis. Nossa época, assim como as demais, é um época carregada de contradições filosóficas, o discurso da filosofia se faz instrumento de domínio e de poder, sempre beneficiando alguns poucos privilegiados ou alguns grupos determinados. A filosofia da nossa época gosta de aparecer na televisão, nos vídeos da internet, os filósofos se afogam com respostas prontas, para toda pergunta tem uma resposta, é um bate e volta. É claro que temos excelentes filósofos, entretanto, longe das redes sociais.
Perguntar pela filosofia supõe necessariamente filosofar! Isso é, criação de conceitos. E é exatamente isso que quer expressar Martin Heidegger, (1889-1976) a resposta o que é filosofia “[...] somente pode ser uma resposta filosofante, uma resposta, que enquanto res-posta filosofa por ela mesma.” Platão, em, uma de suas obras, intitulada, O Político, preliminarmente, retira a filosofia das sombras mitológicas, do véu da opacidade ficcionista para propor uma análise cosmológica, (do cosmo, entendam, universo) científica. No mito cosmológico por ele descrito, Platão atua perfeitamente como um físico. Escreve Platão, “Presta atenção! O universo, umas vezes a divindade guia-o pessoalmente no seu trajeto e acompanha-o no seu movimento circular; mas outras afasta-se – quando os circuitos atingem o intervalo de tempo apropriado. Mas nessa ocasião, por ação do movimento autônomo, o cosmos volta novamente à posição contrária, uma vez que é um ser vivo, dotado de inteligência pelo seu arquiteto primordial.” (2014, 269 d) Platão elimina a conotação fictícia do mito e imprime a ideia de ciência, de racionalidade física do mundo, do cosmos, tanto das causas como dos movimentos, isso é acima de tudo, filosofia. Platão entende que o primeiro movimento é guiado por uma orientação da divindade, e o outro é um movimento autônomo. E aqui está o valor da nova descoberta […] A entidade a divina desempenha o papel não de motor do movimento, mas sim, de guia da direção tomada pelo mesmo, isto porque o cosmo, sendo animado, detém a capacidade de produzi-lo.” (2014, p. 196). Ao retirar as sombras que cobriam o horizonte da filosofia, Platão viabiliza o sentido amplo do próprio pensamento humano. Por sua vez, de outra maneira, afirma Friedrich Hegel (770-1831) “[...] o conteúdo que a filosofia tem não são ações e eventos exteriores das paixões e da sorte, mas são pensamentos.”
Nesse breve contexto inicial, é possível perceber que não existe uma noção única do que seja ou faz a filosofia. Mas, tenho que que afirmar com precisão, o que existe de inconsistência conceitual nisso tudo é demais. Já expressei isso aqui várias vezes, Uma ausência de clareza conceitual perpassa a sociedade contemporânea de modo a embaralhar e confundir sempre mais o sentido e o significado das coisas, dos seres, dos objetos, do mundo, da realidade da própria existência do indivíduo e da comunidade.
Exemplo evidente: a confusão entre educação e escola. Falam e escrevem educação, entretanto, entedem escola! Ta cheiinho disso nos doutorados da suposta educação, nem o MEC, entende isso, também, é cada ministro que dá pena!
No mundo da acumulação, da competição, da individualidade, o pensamento fica restrito a esfera do processo técnico cultural. Talvez as palavras de Gilles Deleuze e Felix Guattarri possam alertar-nos um pouco mais sobre este descompasso conceitual. "Pedimos somente um pouco de ordem para nos proteger do caos. Nada é mais doloroso, mais angustiante do que um pensamento que escapa a si mesmo, ideias que fogem, que desaparecem apenas esboçadas, já corroídas pelo esquecimento ou precipitadas em outras, que também não dominamos" (,2004, p.259)
Ela é criação, sim a filosofia é inventiva e criativa.
A Filosofia começa quando não tomamos mais as coisas como certas, quando questionamos como as coisas são e estão. Diferentemente das demais ciências, a filosofia não tem pretensão de resolver e nem dar soluções aos problemas os quais se defronta o homem. Ela não traz em sua bagagem respostas para as perguntas, muito menos, é uma detentora de soluções. Diferentemente de tudo isso, a filosofia é amante dos conceitos! Isso é tudo que ela tem e faz! Ela namora o conceito, é dele, amiga, companheira leal e fiel. A filosofia é apaixonada pelo conceito e esse, a ama perdidamente e indescritivelmente. Ninguém se atreve a separá-los! As reflexões que seguem, não evidenciam uma ordem necessariamente sequencial e cronológica dos fatos, apenas narram as circunstâncias e contextos históricos determinados historicamente. Também não trazem a vida dos pensadores, apenas sucintamente explicita alguns aspectos mais gerais de questões que permitem compreender ao menos de longe a necessidade da invenção de conceitos.
A filosofia, devo insistir, parte de perguntas simples: o que se chama habitualmente, no jargão filosófico, questões “empíricas”. A partir daí, ela tenta construir uma argumentação que permita responder, não no plano da simples opinião, mas no plano do conceito. Na esfera intelectual da sociedade moderna parece que uma tendência do “não pensamento” perpassa gradativamente e cada dia, a conotação do trabalho do pensamento escapa. Logo, a filosofia fica restrita ao mundo da forma e não ao dos conteúdos. Nessa dinâmica, o sentido conferido à filosofia, do ponto de vista meramente relativista do sentido e da significação da filosofia, acaba se reproduzindo na sociedade. O sentido conferido à filosofia muitas vezes é elaborado e sistematizado somente a partir da forma, de acordo, com as necessidades subjetivas do mercado, do cientificismo, do economicismo, do tecnicismo, em detrimento de sua finalidade. Essa nova forma de organização tem como elemento crucial aproveitar a reflexão filosófica para seu próprio fim, privatizando: o saber, o conhecimento e consequentemente os conceitos. As concepções que norteiam a lógica do mundo pós-moderno massificam o conhecimento humano, uma vez que, os coisificam, desintegram sua totalidade.
É tarefa do filósofo, criar conceitos, questioná-los, mas para isso, é preciso superar e questionar as visões instituídas, trazendo reflexões acerca do sentido daquilo que é racional, a irracionalidade do pensamento atual desgasta e corrompe a clareza dos conceitos. Não se cria conceito do céu, de uma hora para outra, não se cria conceitos. Mas então, o que é conceito? Qual é o sentido dessa criação? A etimologia do termo conceito está vinculada ao processo que torne possível a descrição, a classificação e previsão dos objetos cognoscíveis, ou seja, conhecíveis. De forma generalíssima se pode dizer, que tal significado inclui toda espécie de sinal, ou de expressão semântica independentemente do objeto em estudo, aqui vale para objetos concretos e abstratos seja eles quais forem. Diferentemente do nome, embora que este é indicado por um nome, o conceito não é nome. O conceito não é um elemento simples, entendemos como simples aquilo que carece de variedades e este não é o caso do conceito, pois ele necessita de “personagens conceituais que contribuam para sua definição.” (DELEUZE E GUATARRI, 2002, p. 19). Por meio destas primeiras considerações etimológicas o conceito pode ser entendido como, um anexo, um conjunto, de técnicas simbólicas extremamente complexas, como é o caso das teorias cientificas que também podem ser chamadas de conceitos. “Não há conceito simples. Todo conceito tem componentes, e se define por eles. Tem portanto uma cifra. É uma multiplicidade, embora nem toda multiplicidade seja conceitual. Não há conceito de um só componente: mesmo o primeiro conceito, aquele pelo qual uma filosofia “começa”, possui vários componentes, já que não é evidente que a filosofia deva ter um começo e que, se ela determina um, deve acrescentar-lhe um ponto de vista ou uma razão. [...] Todo conceito e ao menos duplo, ou triplo, etc. Também não há conceitos que tenha todos os componentes, já que seria um puro e simples caos [...] Todo conceito tem um contorno irregular, definido pela cifra de seus componentes. [...] É um todo, porque totaliza seus componentes, mas um todo fragmentado. É apenas sob essa condição que pode sair do caos mental, que não cessa de espreitá-lo, de aderir a ele para reabsorve-lo (DELEUZE, & GUATTARI, 2002, p. 27). Os conceitos não estão amarrados nos fatos, são incorporais, é claro que alguns filósofos gostam de incorporar daí, nunca se desprendem disso.
A filosofia por seu turno se dá, ou acontece num plano que denominamos, plano da imanência. É nesse que giram e gravitam os conceitos. O conceito, como anteriormente explicado é uma descrição de alguma coisa, de um objeto, de um ser, de algo permanentemente empírico ou não. Existem conceitos que foram criados por alguma teoria, basta verificar os conceitos derivados da física ou de alguma teoria cientifica, exemplo clássico, “gravidade” Os conceitos filosóficos são de âmbito da filosofia, isto é, do conhecimento filosófico. São os conceitos totalidades fragmentarias, suas bordas ou dobras não se fixam ou predem linearmente, muito menos são coincidentes. Plano é plano e conceito é conceito! Nunca é bom confundir porco com leitão. De modo simples e esclarecedor, o plano é um espaço, um lugar, um horizonte, pode ser uma “sala de aula”, pode ser “uma cozinha”, pode ser um “campo de futebol”, pode ser um “laboratório de genética”, pode ser o “Palácio de Versalhes”, pode ser um “tempo determinado do mundo novo”, pode ser uma “época da Idade média”, pode ser o “Big Bang”, pode ser “seu mundo.” O plano não é um conceito e muito menos o plano o lugar ou morada fixa de todos os conceitos. Foi enfatizado anteriormente, todo conceito tem uma história, tem um devir, é incorporal, não é simples, ou seja, é criado em alguma época, mas, não reside lá para o todo sempre! É o plano e no plano onde se enrola e desenrola os conceitos.
Se um músico cria um canção, um arquiteto a arquitetura de uma casa, se o belo pássaro “João de barro”, cria sua casa de barro no galho de arvore, atualmente, até em postes elétricos, se o cineasta cria seu filme, o que faz o filósofo se não cria conceitos? Como cria ou inventa um conceito nesse plano de imanência. É possível pensar em criação sem plano ou plano sem conceitos? De antemão afirmo, esse plano envolve um infinidade de movimentos infinitos. Sem fim? Claro, sem fim! O pensamento é algo terrível, sua velocidade é infinita. “[...] o problema do pensamento é a velocidade infinita, mas esta precisa de um meio que se mova em si mesmo infinitamente, o plano, o vazio, o horizonte. É necessário a elasticidade do conceito, mas também, a fluidez do meio. É necessário os dois para compor ‘os seres lentos’ que nós somos. (DELEUZE E GAUTARRI, 2002, p.51)
Então como o filósofo cria? De antemão afirmo novamente, estamos numa sociedade do controlada, Michael Foucault, conhece perfeitamente esse controle e o poder que envolve a sociedade e, portanto, numa sociedade de controle como criar conceitos? Uma cozinheira pode ter uma ideia genial, quer inventar uma nova espécie de alimentação, ela não precisa ser uma filósofa. Ninguém precisa ser filósofo para ter ideia. Ter uma ideia todo mundo tem! Mas, essa ideia, em certo sentido, está aí, não é algo genérico, não é uma farmácia. Não temos uma ideia geral, pronta, acabada, ela sempre pertence a algum domínio, exemplo: uma bola, lembra menino que lembra campo de futebol, daí, lembra-se da grama. Pois bem, quem é assim tão criativo e original? Então, se a cozinheira teve uma ideia: misturar carne de frango e carne jacaré defumada com quiabo acrescentando pimenta malagueta e pepino batido, parece que teve uma ideia original. Mas, percebam, essa nova ideia de alimentação que parecia ser originalíssima, não passa de ideias já criadas. Percebam, todas essas ideias estavam infinitamente entrelaçadas no meio floresta onde mora o jacaré, também estavam no interior de uma feira de hortigranjeiros, ou ainda, presas num galinheiro ou num supermercado onde se encontra frango clonado. Os conceitos a outros remetem, e assim vai. O cogito de Descartes (1596 - 1650) em certa medida estava na cabeça de Platão lá na Grécia antiga, mais tarde na cabeça de Immanuel Kant (1724 - 1804) em Königsberg na Prússia.
Ter um ideia é uma “festa pouco corrente” expressou Gilles Deleuze. “A ideia de que os matemáticos precisariam da filosofia para refletir sobre a matemática é uma ideia cômica. Se a filosofia deve servir para refletir sobre algo, ela não teria nenhuma razão para existir. Se a filosofia existe, é porque ela tem seu próprio conteúdo. Não se faz filosofia do nada, sem necessidade, nada se cria.” Gilles Deleuze explica isso facilmente: É claro que os conceitos não se fabricam assim, num piscar de olhos. “Não nos dizemos, um belo dia: Ei, vou inventar um conceito!”, assim como um pintor não se diz: “Ei, vou pintar um quadro!”, ou um cineasta: “Ei, vou fazer um filme!”. É preciso que haja uma necessidade, tanto em filosofia quanto nas outras áreas, do contrário não há nada. Um criador não é um ser que trabalha pelo prazer. Um criador só faz aquilo de que tem absoluta necessidade. Essa necessidade — que é uma coisa bastante complexa, caso ela exista — faz com que um filósofo (aqui pelo menos eu sei do que ele se ocupa) se proponha a inventar, a criar conceitos, e não a ocupar-se em refletir, mesmo sobre o cinema. Seja no cinema, na cozinha, na arquitetura, no teatro, seja nas instituições escolares, nas autarquias, no judiciário, ninguém precisa de filosofia para criar suas especificidades. Mas, quando a filosofia cria um conceito o mundo gira! A filosofia não foi feita para ontem, ela é uma pedra presente no calçado dos nobres intelectuais. Os conceitos não são criados do nada, como afirmamos, é incorporal, entretanto, pode encarnar nos corpos, embora não se confundem com eles. “O conceito diz ao acontecimento, não a essência ou a coisa.” (DELEUZE & GUATARRI, 1998, p.33). Logo, a filosofia não é discursiva, nem o conceito discursivo. Não existe prazer em discutir sobre a coisa! O filósofo elevado foge das discussões, exceto, os midiáticos da televisão e das redes sociais, esses adoram uma discussão. A filosofia não foi feita para debater! “O conceito não é, de forma alguma, uma proposição, não é proposicional, e a proposição não nunca uma intenção. As proposições definem-se por sua referência, e a referência não concerne ao acontecimento, mas uma relação com o estado de coisas ou de corpos, bem como às condições desta relação” (Idem, 2002, p.35). Da mesma forma, as sentenças possuem sentido e referência, não existe alteração nessas se substituirmos as expressões linguísticas. A coisa é a coisa e pronto, a coisa não é o conceito. Quanto ao exemplo da cozinheira do frango com jacaré defumado com pimenta e pepino batido, os conceitos ali são totalidades fragmentarias, longe de ser um quebra cabeça pronto para montar, isso, não vai acontecer. Ou seja, os conceitos, seus contornos, embora quase se tocam, não diz diretamente ao outrem. Procedendo por frases, a filosofia está longe de ser proposição que se identifica e por ela se integra, ao contrário, das frases a filosofia tira conceito, esse, nunca pode confundir com ideias abstratas, por isso, a filosofia deve ter uma codificação própria, a linguagem e dela, cria e da conotação ao conceito!
Finalizando, um conceito necessita de personagens conceituais para definir a noção da coisa, Deleuze e Guattari exemplificam com um termo muito legal – AMIGO. “Amigo é um desses personagens, do qual se diz mesmo que, ele testemunha a favor de uma origem grega da filosofia: as outras civilizações tinham Sábios, mas os gregos apresentam esses ‘amigos’ que não são simplesmente sábios mais modestos. Seriam os gregos que teriam sancionado a morte do Sábio, e o teriam substituído, pelos filósofos, os amigos da sabedoria, aqueles que procuram a sabedoria, mas, não a possuem formalmente” (2002, p.10) Independentemente de diferença e graus não haveria uma tonalidade expressiva entre o filósofo, o sábio grego e o vindo do Oriente. “Os conceitos não nos esperam inteiramente feitos como os corpos celestes” Não existe um céu para os conceitos criarem asas, se, o filósofo não criar, o “João de barro cria sua casa”, esse pássaro tem uma assinatura original, seja num galho de uma árvore, seja num poste elétrico. Afirmam Deleuze e Guattari, “Nietzsche determinou a tarefa da filosofia quando escreveu: ‘os filósofos’ não devem mais contentar-se em aceitar os conceitos que lhes são dados, para somente limpá-los e fazê-los reluzir, mas é necessário que eles comecem por fabricá-los, criá-los, afirmá-los, persuadindo os homens a utilizá-los.” Portanto, a comunicação, a reflexão ou a contemplação são máquinas da filosofia que o filósofo se apropria para tentar criar conceitos, ou seja, a filosofia não se interessa por transmissões, muito menos por visões ilusórias, até mesmo a reflexão, ninguém necessita de filosofia para refletir sobre qualquer coisa, Samuel Rosa poetizou muito bem isso “Os filósofos não dizem nada que eu não possa dizer.”
A filosofia, devo insistir, parte de perguntas simples: o que se chama habitualmente, no jargão filosófico, questões “empíricas”. A partir daí, ela tenta construir uma argumentação que permita responder, não no plano da simples opinião, mas no plano do conceito. Na esfera intelectual da sociedade moderna parece que uma tendência do “não pensamento” perpassa gradativamente e cada dia, a conotação do trabalho do pensamento escapa. Logo, a filosofia fica restrita ao mundo da forma e não ao dos conteúdos. Nessa dinâmica, o sentido conferido à filosofia, do ponto de vista meramente relativista do sentido e da significação da filosofia, acaba se reproduzindo na sociedade. O sentido conferido à filosofia muitas vezes é elaborado e sistematizado somente a partir da forma, de acordo, com as necessidades subjetivas do mercado, do cientificismo, do economicismo, do tecnicismo, em detrimento de sua finalidade. Essa nova forma de organização tem como elemento crucial aproveitar a reflexão filosófica para seu próprio fim, privatizando: o saber, o conhecimento e consequentemente os conceitos. As concepções que norteiam a lógica do mundo pós-moderno massificam o conhecimento humano, uma vez que, os coisificam, desintegram sua totalidade.
É tarefa do filósofo, criar conceitos, questioná-los, mas para isso, é preciso superar e questionar as visões instituídas, trazendo reflexões acerca do sentido daquilo que é racional, a irracionalidade do pensamento atual desgasta e corrompe a clareza dos conceitos. Não se cria conceito do céu, de uma hora para outra, não se cria conceitos. Mas então, o que é conceito? Qual é o sentido dessa criação? A etimologia do termo conceito está vinculada ao processo que torne possível a descrição, a classificação e previsão dos objetos cognoscíveis, ou seja, conhecíveis. De forma generalíssima se pode dizer, que tal significado inclui toda espécie de sinal, ou de expressão semântica independentemente do objeto em estudo, aqui vale para objetos concretos e abstratos seja eles quais forem. Diferentemente do nome, embora que este é indicado por um nome, o conceito não é nome. O conceito não é um elemento simples, entendemos como simples aquilo que carece de variedades e este não é o caso do conceito, pois ele necessita de “personagens conceituais que contribuam para sua definição.” (DELEUZE E GUATARRI, 2002, p. 19). Por meio destas primeiras considerações etimológicas o conceito pode ser entendido como, um anexo, um conjunto, de técnicas simbólicas extremamente complexas, como é o caso das teorias cientificas que também podem ser chamadas de conceitos. “Não há conceito simples. Todo conceito tem componentes, e se define por eles. Tem portanto uma cifra. É uma multiplicidade, embora nem toda multiplicidade seja conceitual. Não há conceito de um só componente: mesmo o primeiro conceito, aquele pelo qual uma filosofia “começa”, possui vários componentes, já que não é evidente que a filosofia deva ter um começo e que, se ela determina um, deve acrescentar-lhe um ponto de vista ou uma razão. [...] Todo conceito e ao menos duplo, ou triplo, etc. Também não há conceitos que tenha todos os componentes, já que seria um puro e simples caos [...] Todo conceito tem um contorno irregular, definido pela cifra de seus componentes. [...] É um todo, porque totaliza seus componentes, mas um todo fragmentado. É apenas sob essa condição que pode sair do caos mental, que não cessa de espreitá-lo, de aderir a ele para reabsorve-lo (DELEUZE, & GUATTARI, 2002, p. 27). Os conceitos não estão amarrados nos fatos, são incorporais, é claro que alguns filósofos gostam de incorporar daí, nunca se desprendem disso.
A filosofia por seu turno se dá, ou acontece num plano que denominamos, plano da imanência. É nesse que giram e gravitam os conceitos. O conceito, como anteriormente explicado é uma descrição de alguma coisa, de um objeto, de um ser, de algo permanentemente empírico ou não. Existem conceitos que foram criados por alguma teoria, basta verificar os conceitos derivados da física ou de alguma teoria cientifica, exemplo clássico, “gravidade” Os conceitos filosóficos são de âmbito da filosofia, isto é, do conhecimento filosófico. São os conceitos totalidades fragmentarias, suas bordas ou dobras não se fixam ou predem linearmente, muito menos são coincidentes. Plano é plano e conceito é conceito! Nunca é bom confundir porco com leitão. De modo simples e esclarecedor, o plano é um espaço, um lugar, um horizonte, pode ser uma “sala de aula”, pode ser “uma cozinha”, pode ser um “campo de futebol”, pode ser um “laboratório de genética”, pode ser o “Palácio de Versalhes”, pode ser um “tempo determinado do mundo novo”, pode ser uma “época da Idade média”, pode ser o “Big Bang”, pode ser “seu mundo.” O plano não é um conceito e muito menos o plano o lugar ou morada fixa de todos os conceitos. Foi enfatizado anteriormente, todo conceito tem uma história, tem um devir, é incorporal, não é simples, ou seja, é criado em alguma época, mas, não reside lá para o todo sempre! É o plano e no plano onde se enrola e desenrola os conceitos.
Se um músico cria um canção, um arquiteto a arquitetura de uma casa, se o belo pássaro “João de barro”, cria sua casa de barro no galho de arvore, atualmente, até em postes elétricos, se o cineasta cria seu filme, o que faz o filósofo se não cria conceitos? Como cria ou inventa um conceito nesse plano de imanência. É possível pensar em criação sem plano ou plano sem conceitos? De antemão afirmo, esse plano envolve um infinidade de movimentos infinitos. Sem fim? Claro, sem fim! O pensamento é algo terrível, sua velocidade é infinita. “[...] o problema do pensamento é a velocidade infinita, mas esta precisa de um meio que se mova em si mesmo infinitamente, o plano, o vazio, o horizonte. É necessário a elasticidade do conceito, mas também, a fluidez do meio. É necessário os dois para compor ‘os seres lentos’ que nós somos. (DELEUZE E GAUTARRI, 2002, p.51)
Então como o filósofo cria? De antemão afirmo novamente, estamos numa sociedade do controlada, Michael Foucault, conhece perfeitamente esse controle e o poder que envolve a sociedade e, portanto, numa sociedade de controle como criar conceitos? Uma cozinheira pode ter uma ideia genial, quer inventar uma nova espécie de alimentação, ela não precisa ser uma filósofa. Ninguém precisa ser filósofo para ter ideia. Ter uma ideia todo mundo tem! Mas, essa ideia, em certo sentido, está aí, não é algo genérico, não é uma farmácia. Não temos uma ideia geral, pronta, acabada, ela sempre pertence a algum domínio, exemplo: uma bola, lembra menino que lembra campo de futebol, daí, lembra-se da grama. Pois bem, quem é assim tão criativo e original? Então, se a cozinheira teve uma ideia: misturar carne de frango e carne jacaré defumada com quiabo acrescentando pimenta malagueta e pepino batido, parece que teve uma ideia original. Mas, percebam, essa nova ideia de alimentação que parecia ser originalíssima, não passa de ideias já criadas. Percebam, todas essas ideias estavam infinitamente entrelaçadas no meio floresta onde mora o jacaré, também estavam no interior de uma feira de hortigranjeiros, ou ainda, presas num galinheiro ou num supermercado onde se encontra frango clonado. Os conceitos a outros remetem, e assim vai. O cogito de Descartes (1596 - 1650) em certa medida estava na cabeça de Platão lá na Grécia antiga, mais tarde na cabeça de Immanuel Kant (1724 - 1804) em Königsberg na Prússia.
Ter um ideia é uma “festa pouco corrente” expressou Gilles Deleuze. “A ideia de que os matemáticos precisariam da filosofia para refletir sobre a matemática é uma ideia cômica. Se a filosofia deve servir para refletir sobre algo, ela não teria nenhuma razão para existir. Se a filosofia existe, é porque ela tem seu próprio conteúdo. Não se faz filosofia do nada, sem necessidade, nada se cria.” Gilles Deleuze explica isso facilmente: É claro que os conceitos não se fabricam assim, num piscar de olhos. “Não nos dizemos, um belo dia: Ei, vou inventar um conceito!”, assim como um pintor não se diz: “Ei, vou pintar um quadro!”, ou um cineasta: “Ei, vou fazer um filme!”. É preciso que haja uma necessidade, tanto em filosofia quanto nas outras áreas, do contrário não há nada. Um criador não é um ser que trabalha pelo prazer. Um criador só faz aquilo de que tem absoluta necessidade. Essa necessidade — que é uma coisa bastante complexa, caso ela exista — faz com que um filósofo (aqui pelo menos eu sei do que ele se ocupa) se proponha a inventar, a criar conceitos, e não a ocupar-se em refletir, mesmo sobre o cinema. Seja no cinema, na cozinha, na arquitetura, no teatro, seja nas instituições escolares, nas autarquias, no judiciário, ninguém precisa de filosofia para criar suas especificidades. Mas, quando a filosofia cria um conceito o mundo gira! A filosofia não foi feita para ontem, ela é uma pedra presente no calçado dos nobres intelectuais. Os conceitos não são criados do nada, como afirmamos, é incorporal, entretanto, pode encarnar nos corpos, embora não se confundem com eles. “O conceito diz ao acontecimento, não a essência ou a coisa.” (DELEUZE & GUATARRI, 1998, p.33). Logo, a filosofia não é discursiva, nem o conceito discursivo. Não existe prazer em discutir sobre a coisa! O filósofo elevado foge das discussões, exceto, os midiáticos da televisão e das redes sociais, esses adoram uma discussão. A filosofia não foi feita para debater! “O conceito não é, de forma alguma, uma proposição, não é proposicional, e a proposição não nunca uma intenção. As proposições definem-se por sua referência, e a referência não concerne ao acontecimento, mas uma relação com o estado de coisas ou de corpos, bem como às condições desta relação” (Idem, 2002, p.35). Da mesma forma, as sentenças possuem sentido e referência, não existe alteração nessas se substituirmos as expressões linguísticas. A coisa é a coisa e pronto, a coisa não é o conceito. Quanto ao exemplo da cozinheira do frango com jacaré defumado com pimenta e pepino batido, os conceitos ali são totalidades fragmentarias, longe de ser um quebra cabeça pronto para montar, isso, não vai acontecer. Ou seja, os conceitos, seus contornos, embora quase se tocam, não diz diretamente ao outrem. Procedendo por frases, a filosofia está longe de ser proposição que se identifica e por ela se integra, ao contrário, das frases a filosofia tira conceito, esse, nunca pode confundir com ideias abstratas, por isso, a filosofia deve ter uma codificação própria, a linguagem e dela, cria e da conotação ao conceito!
Finalizando, um conceito necessita de personagens conceituais para definir a noção da coisa, Deleuze e Guattari exemplificam com um termo muito legal – AMIGO. “Amigo é um desses personagens, do qual se diz mesmo que, ele testemunha a favor de uma origem grega da filosofia: as outras civilizações tinham Sábios, mas os gregos apresentam esses ‘amigos’ que não são simplesmente sábios mais modestos. Seriam os gregos que teriam sancionado a morte do Sábio, e o teriam substituído, pelos filósofos, os amigos da sabedoria, aqueles que procuram a sabedoria, mas, não a possuem formalmente” (2002, p.10) Independentemente de diferença e graus não haveria uma tonalidade expressiva entre o filósofo, o sábio grego e o vindo do Oriente. “Os conceitos não nos esperam inteiramente feitos como os corpos celestes” Não existe um céu para os conceitos criarem asas, se, o filósofo não criar, o “João de barro cria sua casa”, esse pássaro tem uma assinatura original, seja num galho de uma árvore, seja num poste elétrico. Afirmam Deleuze e Guattari, “Nietzsche determinou a tarefa da filosofia quando escreveu: ‘os filósofos’ não devem mais contentar-se em aceitar os conceitos que lhes são dados, para somente limpá-los e fazê-los reluzir, mas é necessário que eles comecem por fabricá-los, criá-los, afirmá-los, persuadindo os homens a utilizá-los.” Portanto, a comunicação, a reflexão ou a contemplação são máquinas da filosofia que o filósofo se apropria para tentar criar conceitos, ou seja, a filosofia não se interessa por transmissões, muito menos por visões ilusórias, até mesmo a reflexão, ninguém necessita de filosofia para refletir sobre qualquer coisa, Samuel Rosa poetizou muito bem isso “Os filósofos não dizem nada que eu não possa dizer.”
Referências
O que é a filosofia? Gilles Deleuze e Feliz Guattari, 2002..
O Banquete dos Sete Sábios. Plutarco, 2008.