terça-feira, 22 de março de 2022

A FILOSOFIA, O FILÓSOFO E OS CONCEITOS

A FILOSOFIA, O FILÓSOFO E OS CONCEITOS - Introito da sexta, filosofou

- acho que você precisa renovar seus conceitos.
- meus pais não compreendem meus motivos.
- meus filhos estão avançados demais. 
- essa juventude é maluca.
- mãe, você precisa renovar seus conceitos.

Entendida como criadora de conceitos, a filosofia é uma atividade do ato, não propriamente da potência, assim deve viver o filósofo na sina da criação. Enquanto ato, a filosofia é criativa, ela antecipa sua natureza por sua originalidade, enquanto potência ela radicaliza a capacidade de vir a ser dos conceitos. Dessa forma, a filosofia nasce antes do sol nascer, ela possibilita chegar bem antes do anunciado e do previsto. Aqui a filosofia é educativa em sua gênese.
Em sua excentricidade a filosofia navega em direção contrária no oceano das ciências. Sim, ela não tem objeto definido, tão pouco procura resolver os nossos problemas do cotidiano, as ciências que lutem.

Os filósofos da contemporaneidade insistem e vivem num mundo paralelo da criação conceitual, daí, aproveitam e ensinam as inutilidades da bolha pronta e acabada. Ou seja, falam o que já "foi dito", ensinam o que já "foi aprendido", falam o que já "foi falado", nada de novo no "front", raramente pensam na criação dos conceitos. 
Do âmbito da educação e da escola, alguém acertadamente arriscou, " Se você finge que ensina e finjo que aprendo". Eis o mundo do pronto e acabado. Sem a criação de conceitos, os filósofos da mídia em geral, vivem tagarelando sobre o modo de viver, sobre algum modo de ser feliz. Estão sempre dando conselhos. E o fazem com tanta astúcia e eloquência que enganam a muitos.
A filosofia não foi feita para aconselhamentos, não é uma doutrina, nem vive de reflexão, de comunicação ou de contemplação. A filosofia é uma atividade que antecipa, que surpreende na tarefa da criação. A filosofia não é reflexão.

A longevidade do filósofo não está em encontrar soluções para as questões do cotidiano, longe disso, na tarefa criadora de conceitos, os filósofos enfrentam o ato da criação e recriação de conceitos. É óbvio, não se cria conceito de uma hora para outra, assim como as festas, não acontecem todos os dias. 
Por morar no devir, a filosofia é sempre surpresa, por morar no ato, ela sempre nos surpreende. Sendo ela a arte de criar e fabricar conceitos, a filosofia está sempre atenta, não cochila nem dorme de jeito algum. Antes de tudo a filosofia é amiga dos conceitos, ela mora aí, na melhor equação, pode-se afirmar, que o filósofo é conceito em potência. A filosofia é uma atividade criadora e original, é ela uma atividade do pensamento, eis a pedra de toque. Sabemos muito bem que ninguém precisa da filosofia para pensar, aliás, todo mundo pensa, mas, o ato da criação é algo incontestável para os filósofos, é um negócio de gregos 
Mas, o que é um conceito? O que dele sabemos? De onde ele vem e para o de vai? Onde moram os conceitos? Onde os conceitos se aninham? Qual a relação entre a filosofia, o filósofo e os conceitos?
De antemão, o conceito não é a coisa, " o conceito diz o acontecimento e não a coisa ou sua essência". (DELEUZE, GATARRI, 2000). O conceito é, de modo geral, o processo da descrição dos objetos que conhecemos. Os conceitos são atributos da linguagem e quando eles estão embaralhados ninguém fala com ninguém. A confusão nasce da discordância conceitual. A "torre de babel" nada mais é que, a representação exata da confusão conceitual, ninguém entende ninguém. 

Os conceitos moram por assim dizer no mundo do pensamento mas, não são entidades desse, os conceitos também não caem do céu como realidades prontas e acabadas. Os conceitos moram num determinado horizonte. Estão e moram no mundo, tipo uma plataforma, onde eles brincam, configuram e escorregam de um lado para o outro. E aqui está a tarefa do filósofo e a excentricidade da filosofia, navegar nesse oceano. Agora e aqui a tarefa é historial, ou seja, adentrar nesse oceano é saber que os conceitos estão na história, exatamente por isso, mudam e transformam, logo, possui um devir, cada conceito remete a outros conceitos no processo de criação. Por exemplo, o conceito de infância nasceu numa determinada época histórica, embora não sendo corporal o conceito incorpora um determinado sentido. Típico exemplo, o de Jean-Jacques Rousseau, ele deu a infância um novo conceito, em certo sentido, Rousseau recriou o sentido de infância na história. É preciso urgente que os pedagogos e pedagogas aprendam a criação de conceitos. 

Alguns educadores/as conservam o mesmo plano de ensino por décadas.Depois de Rousseau, o mundo, pelo menos, o ocidental, abriu os olhos para o sentido de infância a partir de novas conexões presentes. 
Para entender a criação de conceitos e os seus personagens, apresentamos um conceito modelo, o do “amigo". Esse conceito é interessante, pois, palavra filosofia, contém essa conotação: filos + sofia - amigo da sabedoria.
Esse conceito ou qualquer outro tem suas peculiaridades, ou seja, tem seus componentes, seus personagens, além disso, todo conceito tem uma “história”, ao mesmo tempo um “devir”. Todo conceito tem seus componentes e seus personagens, fora disso não existe conceito. Para dar expressão e conotação ao conceito "amigo", ou seja, para dar a esse, uma conotação própria, sem dúvida é preciso que alguém, advogue por ele, nesse caso, a Grécia. Escreveram, Deleuze e Guattari: 

"Amigo é um desses personagens, do qual se diz mesmo que ele testemunha a favor de uma origem grega da filosofia: as outras civilizações tinham Sábios, mas os gregos apresentam esses amigos, que não sao simplesmente sábios mais modestos. Seriam os gregos que teriam sancionado a morte do Sábio e o teriam substituído pelos filósofos, os amigos da sabedoria, aqueles que procuram a sabedoria, mas não a possuem formalmente. Mas não haveria somente diferença de grau, como numa escala, entre o filósofo e o sábio: o velho sábio vindo do oriente pensa talvez por Figura, enquanto o filósofo Inventa e pensa o Conceito." (2000)

Se o filósofo é amigo do conceito, a filosofia em sua máxima deve criar sempre conceitos novos. Os conceitos não caem do céu prontos e acabados, os filósofos criam, fabricam, inventam, essa é a tarefa. Nietzsche não contenta que o filósofo tenha a tarefa de somente receber o conceito e distingui-lo, ou fazê-lo brilhar, mais que isso, o filósofo deve fabricar novamente, criar novamente, já que os conhecimentos não são realidades prontas e acabadas.

Percebam que bacana o viés das ciências, das artes, são disciplinas criadoras, não ao modo da filosofia no sentido estrito. A ciência da tecnologia é um exemplo clássico de criação renovadora.

Antes era a escuridão, tão-somente uma vela, depois uma válvula, depois um transistor, agora, por enquanto, um chip qualquer. Amanhã será um lindo dia 💖.

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